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Por que temos que teorizar

O reino do Intelectual

Em uma sociedade em que teorizar tem sido o domínio de homens, e onde teorias são quase sempre usadas parar mistificar, intimidar e oprimir, é certo que nós enquanto mulheres deveríamos ser cautelosas em relação ao que vemos como o ato de teorizar – e os teoricos. Nós presenciamos elites usando seu poder para justificar sua posição: dos ricos ouvimos que pobres são responsáveis por sua pobreza, de brancos que negros têm apenas a si mesmos para culpar sobre sua posição na sociedade, e de homens que mulheres estão satisfeitas com seu fardo e escolhem sua subordinação. ‘Teoria’ tem sido usada para construir uma divisão entre aqueles que sabem e aqueles que não sabem, e, como a maioria das divisões em nossa sociedade hierárquica, não é uma divisão entre partes iguais. E essa é uma das razões pelas quais o movimento de mulheres, muito acertadamente, tem suspeitado de teorias e teoricos. Mas nossa impaciência com a teoria não vem apenas do fato de que a maioria das ‘teorias’ a que somos apresentadas terem sido produzidas por homens, ou até mesmo por terem sido usadas para seu próprio interesse, mas por que em tempos de dificuldades econômicas, em temos em que violência contra a mulher parece aumentar e violência entre homens vem tornando-se mais ameaçadora para nós todas, nós estamos propicias a simpatizar com o ponto de Christabel Pankhurst e defender que são Atos e não Palavras que são necessários.

Nós precisamos redefinir teoria e teoricos; nós precisamos ver teoria não como algo que devemos frequentemente resistir, mas como algo que podemos usar para nosso próprio interesse. E nós precisamos enxergar que homens não tem monopólio na teoria: teorizar é uma atividade que qualquer ser humano pode executar.

Nós precisamos saber como o patriarcado funciona. Nós precisamos saber como mulheres desaparecem, por que somos iniciadas em uma cultura na qual mulheres não possuem nenhum passado visível, e o que acontecerá se fizermos esse passado ser visível e real. Se o processo não pode ser repetido novamente, se vamos transmitir para a próxima geração de mulheres o que nós foi negado, nós temos que saber como quebrar o circulo fechado de poder masculino que permite que homens sigam produzindo conhecimento sobre si, fingindo que nós não existimos.

E isso é entrar no reino da teoria – não para mistificar, intimidar ou oprimir, mas para descrever e explicar a experiência das mulheres em uma sociedade dominada por homens que diz que tais experiências não existem já que não há registro delas.

Em um contexto em que mulheres têm duvidas sobre a potencialidade do intelectual, eu introduzirei o argumento de defesa de que isso não é um acidente; Eu sugerirei que o patriarcado considera lucrativo que nós nos afastemos do intelectual. Nós fomos desencorajadas de formular e construir teorias, pois o patriarcado considera essa uma atividade perigosa da parte das mulheres. É por isso que teorias que nós construimos, de novo e de novo, e que mostram muitas características em comum, tenham tão efetivamente desaparecido.

Eu entendo por que devemos suspeitar da teoria, mas acredito que teoria, e a discussão a da história das ideias das mulheres pode ser enriquecedora, pode nos ajudar a entender o presente e planejar para o futuro.”

—  Dale Spender, Women of Ideas and What Men Have Done to Them, on the potential pitfalls of using the realm of the intellectual to engage with women’s (disappearance from) history

tradução M.L.