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REDSTOCKINGS MANIFESTO

REDSTOCKINGS foi um dos grupos fundadores do movimento de libertação das mulheres dos 60, nos Estados Unidos. O nome é um neologismo tomado do termo “bluestockings” (“meias azuis”), que se costumava aplicar às mulheres intelectualizadas no século XIX, aqui modificado para “redstockings” (meias vermelhas), que aí se reivindicava como sendo a cor da revolução.Caracterizadas por ações como demonstrações públicas, teatro de rua, ações diretas, e por difundirem um periódico próprio, o “Feminist Revolution” (Revolução Feminista), a organização surgiu de um grupo de feministas radicais que se opunham ao feminismo liberal como o representado pela Organização Nacional de Mulheres (NOW), que viam como una forma de avançar o movimento de mulheres unicamente em termos de reformas institucionais. Hoje em dia as membras remanescentes do grupo mantém um projecto de disponibilização do arquivo histórico produzido pelo mesmo, chamado “História para Uso Ativista”. Algumas coisas podem ser obtidas no website http://www.redstockings.org, de onde foi extraído o manifesto que segue.

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REDSTOCKINGS MANIFESTO, 1969

 

I. Depois de centenas de lutas individuais e lutas preliminares políticas, as mulheres estão se unindo para alcançar sua libertação final da supremacia masculina. Redstockings dedica-se a construir essa unidade e conquistar nossa liberdade.

II. Mulheres são uma classe oprimida. Nossa opressão é total, afetando cada faceta de nossas vidas. Somos exploradas como objetos sexuais, criadoras, serventes domésticas e trabalho barato. Somos consideradas seres inferiores, cujo único propósito é melhorar a vida dos homens. Nossa humanidade é negada. Nosso comportamento prescripto é forçado pelas ameaças de violência física.

III. Identificamos os agentes da nossa opressão como homens. A Supremacia Masculina é a mais antiga e a mais básica forma de dominação. Todas as demais formas de exploração e opresão (racismo, capitalismo, imperialismo, etc) são extensões da supremacia masculina: homens dominam mulheres, uns poucos homens dominam o restante. Todas estruturas de poder ao longo da história foram homem-dominadas e masculino-orientadas. Os homens estiveram controlando todas instituições políticas, econômicas, políticas e culturais e mantiveram esse controle com força física. Eles usaram o poder para manter às mulheres em uma posição inferior. Todos os homens recebem benefícios econômicos, sexuais e psicológicos da supremacia masculina. Todos homens vieram oprimindo às mujeres.

IV. Tentativas foram feitas para mover a carga de responsabilidade dos homens para instituições ou para as mulheres. Nós condenamos esses argumentos como evasões. Instituições sozinhas não oprimem; elas são meramente ferramentas do opressor. Culpabilizar instituições implica que homens e mulheres são igualmente victimizad@s, e isso obscurece o fato de que os homens se beneficiam da subordinação das mulheres, e dá aos homens a desculpa de que eles foram forçados a serem opressores. Pelo contrário, qualquer homem é livre para renunciar sua posição superior, sempre que esteja disposto a ser tratado como uma mulher por um outro homem.

‎Nós também rejeitamos a idéia de que mulheres consentem ou que devem ser culpadas por sua própria opressão. A submissão das mulheres não é o resultado de lavagem cerebral, estupidez ou enfermidade mental mas pelo contrário, resulta da pressão diária vinda dos homens. Nós não necessitamos mudar a nós mesmas, os homens que sim o devem.

A mais caluniosa evasão de todas é a de que as mulheres podem oprimir aos homens. A base desta ilusão é o isolamento das relações individuais de seus contextos políticos e a tendência dos homens a ver em qualquer desafio legítimo a seus privilégios uma perseguição.

V. Consideramos nossa experiência pessoal, e nossos sentimentos sobre essa experiência, como a base para uma análise da nossa situação comum. Não podemos depender das ideologias existentes uma vez que são todas elas produtos de uma cultura supremacista masculina. Nós questionamos cada generalização e não aceitamos nenhuma que não esteja confirmada pela nossa experiência.

Nossa tarefa principal no presente momento é a de desenvolver consciência de classe feminina por meio da experiência compartilhada e expondo publicamente a fundação sexista de todas as instituições. Os grupos de autoconsciência não são “terapia”, conceito que supôe a existência de soluções individuais e falsamente assume que as relações homem-mulher são puramente pessoais, se trata sim do único método pelo qual podemos assegurar que nosso programa para a libertação está baseado em realidades concretas de nossas vidas.

O primeiro requisito para criar consciência de classe é a honestidade, no privado e no público, com nós mesmas e com as demais mulheres.

VI. Nos identificamos con todas as mulheres. Definimos nosso melhor interesse como sendo o das mulheres mais pobres, as mais brutalmente exploradas brutalmente exploradas. Repudiamos todos privilégios econômicos, raciais, educacionais ou de status que nos dividem das demais mulheres. Estamos determinadas a reconhecê-los e eliminar qualquer discriminação que possamos ter com nós mesmas e com as demais mulheres.

Estamos comprometidas a alcançar democracia interna. Faremos o que for necessário para assegurar que cada mulher em nosso movimento tenha oportunidades iguais de participar, assumir responsabilidade e desenvolver seu potencial político.

VII. Convocamos todas nossas irmãs a unirem-se com nós em luta.

Convocamos a todos os homens a deixarem seu privilégio masculino e apoiar a libertação das mulheres para o interesse da humanidade e delas mesmas.

 

Lutando por nossa libertação nós sempre tomamos o lado das mulheres contra seus opressores. Não vamos perguntar o que é “revolucionário” ou “reformista”, e sim somente o que é melhor para as mulheres.

 

O tempo das pequenas batalhas individuais passou. Agora vamos até o fim.

 

(7 de Julho de 1969).