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A instituição do intercurso sexual – Ti-Grace Atkinson

O orgasmo vaginal se apóia na teoria biológica, ao sustentar que a instituição do intercurso é do interesse do instinto sexual da mulher. O argumento consiste mais ou menos no seguinte: o homem tem um
instinto sexual, e nós o sabemos, já que os homens adoram ter relações sexuais. Como o desejo masculino pelo intercurso não é determinado pelo elemento receptor, é a atividade em si que é desejada. Essa atividade é definida essencialmente como a penetração do pênis na vagina. Mas o homem pode ter uma experiência intensa, chamada “orgasmo”, provocada por sua própria atividade no interior desse ambiente particular que é a vagina. A culminação de sua experiência, ou orgasmo, é indicada por alguns sinais,
como a ejaculação. A sociedade decidiu que esta experiência é agradável. O ambiente vaginal é necessário ao intercurso. Ou se força a mulher a fornecer este ambiente, ou é de seu interesse fazê-lo. É ilegal forçá-la: isso se chama estupro. [nota: legalmente não se pode dizer que uma esposa foi
“estuprada” por seu marido. Somente se o marido imobilizasse a mulher enquanto outro homem a viola, seria o caso de acusá-lo de estupro. A estrutura do orgasmo vaginal é a coerção que substitui as leis da estrutura do casamento em sua forma original]. Ela tem, portanto, interesse em fornecer este ambiente. Então, supõe-se que ela tenha a mesma experiência que o homem ao praticar a mesma atividade. Vamos chamá-la de “orgasmo vaginal” para distinguí-la da significação principal de “orgasmo”, a saber, o orgasmo masculino. E isso não tem como não ser agradável à mulher. Se a experiência é idêntica àquela do orgasmo masculino, não deveria haver diferenças de intensidade nem de condições de obtenção. Consequentemente, a mulher também tem um instinto sexual. (…)Até agora, referimo-nos ao intercurso enquanto instituição. Dado que em nossa sociedade não houve jamais uma época na qual a sexualidade (sob
todos os aspectos) não fosse um instrumento de exploração, e na qual os relacionamentos baseados em sexo – por exemplo, os relacionamentos homem-mulher –, não fossem extremamente hostis, é difícil compreender como poderíamos manter a prática do intercurso, ou como poderíamos admitir que nossa sociedade tenha o desejo de favorecer os relacionamentos positivos entre indivíduos.
Se quisermos ver exatamente qual é o status do intercurso enquanto prática, a primeira medida a tomar é, certamente, despojá-los de todos seus aspectos institucionais: é preciso eliminar, em primeiro lugar, o aspecto funcional. O intercurso deveria cessar de ser o meio pelo qual a sociedade recorre para renovar a população. Os trabalhos recentes sobre a concepção extra-uterina e inoculação deixam entrever uma mudança bastante acessível.

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