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as borboletas, ou despindo as políticas do amor – witchwind

um texto que critica a construção cultural do apaixonamento, colocando este em contexto de terrorismo sexual masculino.

tradução por tulipa nihil

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“Homens mentem sobre tudo. Ou, em outras palavras, eles fazem as coisas mais atrozes e repugnantes conosco, e chamam isso de outra forma, por exemplo, eles chamam isso de amor.
Quando eu era nova eu sempre me perguntava o que significa “estar apaixonada”. Estava estampado em todos os lugares como o máximo, a melhor coisa para uma mulher viver, aquilo que você deveria experimentar para estar completa. Estar apaixonada sempre foi descrito como um estado super especial que você atingiu, e como um raio, transcendeu você e mudou a forma como você se comportava. É muito assustador quando você pensa sobre isso. Eu nunca me apaixonei por alguém quando eu era jovem, e eu estava sempre me perguntando se eu era normal ou não. Eu reclamava com as pessoas: “eu nunca me apaixonei” e elas me diziam: “ah você vai ver, o amor virá um dia quando você menos esperar”. Me senti exatamente da mesma maneira quando me explicaram o que era Deus e a fé, e supostamente eu deveria transcender por estes sentimentos maravilhosos durante os rituais em grupo ou algo assim, só que eu nunca senti nada e tudo era completamente artificial e degradante, ter que fingir, e me sentir culpada por fingir, exatamente como em um relacionamento.
Eu me lembro de um menino se aproximando de mim quando eu tinha 9 anos ou mais, e ele queria “sair comigo”. Nós supostamente devíamos dar as mãos, eu me senti completamente estranha e falsa (qual era a diferença entre “estar com ele” e “não estar com ele”? A insipidez e a falta de naturalidade eram absurdamente horríveis), eu não senti nada, exceto desconfortável por ter que dar as mãos só para mostrar ao mundo que eu pertencia à ele, e eu não gostei, por que pensava que era errado pertencer à alguém, mas eu também me senti culpada por não sentir aquele estado especial de amor que eu deveria sentir, eu achei que isso significava que eu era sem coração.
De qualquer forma, alguns estupros / PNV / relacionamentos abusivos depois, enquanto eu ainda era adolescente, eu “me apaixonei”, ao menos era o que eu pensava. Tudo o que eu sabia é que aquilo era muito intenso, e então eu supus que TINHA que ser amor, FINALMENTE!
Agora, o que era exatamente o que eu senti? Minhas respostas à primeiramente ser “seduzida” (perseguida) e beijada (fisicamente invadida e mantida em cativeiro) por um homem – e ele querer me ver de novo – incluem:
– A mente em branco
– Sem saber o que dizer ou fazer
– Meu coração acelerado
– Sudorese
– Pensamentos obsessivos e invasivos sobre ele, ao ponto que me impediam de me concentrar em outras coisas ou experimentar outras coisas plenamente.
– Passar horas ou um longo tempo preparando tudo o que eu diria à eles antes de vê-lo
– Nervosismo
– Insônia
– As denominadas “borboletas” no estômago, isto é, tensões no estômago
– Ficar corada
– Verificando me no espelho e controlando a aparência do meu corpo mais obsessivamente do que o normal, e tendo mais medo do que o habitual de ser feia, ou não ser inteligente o suficiente, ou qualquer coisa
– Espera desesperada de sinais de contato de sua parte. Um e-mail, um texto, um telefonema… Verificando meu telefone e-mails obsessivamente, e sentindo meu coração quebrar quando nada viria.
– Um sentimento doloroso de perda, separação, vazio (isso é, me sentir vazia, inexistente sem a presença dele) e até sentir o meu coração rasgado por dentro. Uma sensação que se intensificava na sua ausência, ou se ele estivesse sadisticamente frio ou distante, ou depois do PNV ou invasão física.
– Um constante estado de melancolia profunda, variando em intensidade. É um estado em que você esta preso entre um nada lá fora e o horror da sua própria solidão / vazio interior (ou o que você é sugestionado a acreditar que é a solidão da alma) assim eu me impulsionaria melancolicamente para fora de mim, implorando silenciosamente para ligar pra ele (ou outra pessoa.)
– Encontrar coisas bonitas no homem, onde não haviam nenhuma.
Sim. Nada disso é amor. É apenas terror de ser abandonada, terror e ponto final. Ou o que podemos chamar de união traumática. No entanto, em todos os lugares essas respostas muito normais ao dano, negligencia e aprisionamento por homens, são descritas como amor, mesmo quando a mulher (dizem em “romances”) morre desse suposto amor. E isso não é apenas projeção, em todo caso o abuso e ameaça por homens nos relacionamentos é real, por causa do PNV, porque homens são nossos opressões e raptores e nós temos medo deles, por que a invasão física compulsória que os homens definem como sexo, o verdadeiro descaso, mente e manipula, etc.
Sinto em dizer, essa primeira experiencia foi extremamente dolorosa. O cara era mais ou menos 13 anos mais velho que eu, eu ainda era menor de idade, e meu “amor” por ele seria ainda mais forte, ele era muito fugaz, mantinha contato comigo só de vez em quando, quando precisava de mim para foder (estuprar). Eu estava muito grata por ele prestar atenção em mim, até mesmo para prestar atenção em seu comportamento abusivo, ou entender o que significava. Eu estava confusa por que ele só queria me ver de forma esporádica, em vez de começar um relacionamento, que é a forma que este amor supostamente deveria ser expresso. Se ele gostava de mim o suficiente para me “desejar”, por que ele não queria um relacionamento? Não saber se ele me “amava” ou não, me deixava constantemente ansiosa. A distancia emocional, o abandono e a constante espera por ele geraram uma dor aguda.
Passando um ano, eu realmente percebi que ele me usou e não tinha respeito por mim. Eu decidi desistir de esperar que ele se “apaixonasse” por mim (ou entrasse no relacionamento prometido). No instante que eu percebi isso, eu senti uma maravilhosa sensação de liberdade. Era como se todo o peso do mundo tivesse de repente desaparecido. Eu não estava mais amarrada, ligada a ele. Eu era independente. Eu não tenho que viver a minha vida inteira de acordo com ele, esperando e ansiando por ele. As ilusões se desfizeram e eu o vi apenas como um cara inútil. Eu disse a mim mesma: Nunca mais vou ser tão ingenua com um homem! Tive azar, eu pensei, eu deveria apenas ter escolhido um homem melhor, e sido mais cuidadosa.
O problema é que nos próximos cinco ou seis anos, essa situação manteve se repetindo, e repetindo, e repetindo. Todos os homens eu me liguei traumaticamente ou estavam apenas interessados em me usar para PNV (estupro) ou não tinham nenhum interesse em mim. Eu pensei que tinha algo de errado comigo, talvez eu não fosse bonita o suficiente, magra o suficiente, peituda o suficiente, descolada o suficiente, madura, sedutora, tanto faz. Eu não conseguia entender o que faltava. Eu não entendia por que eu acumulei tantos fracassos. Por que eles nunca ficavam? Por que eu tinha tanto azar no “amor”? Como alternativa, eu decidi que não iria me ligar traumaticamente a ninguém, então eu estaria plenamente consciente de que eu não queria o PNV e a invasão física (quando eu não estava ciente com os outros, por causa da ligação-traumática) e seria ainda mais humilhante. Eu ainda era muito grata pela atenção para afasta-los, então isso seria dolorosamente nojento, e eu me odiaria por perceber que eu estava me traindo.
Quando eu estava “atraída” eles não queriam, mas quando eu não queria, eles queriam. Não fazia nenhum sentido.
Eu vi que existia um padrão e tentei diversas coisas para evitar sentir dor. Eu decidi que iria parar de manter PNV com homens que eu não conhecia bem, ou não tinha começado um relacionamento oficialmente. O objetivo era adiar o PNV com homens que estavam “atraídos” por mim até que eu tivesse os conhecido bem e soubesse que eles não iriam me usar / abusar somente para manter PNV, e iriam querer um relacionamento sério, comprometido e igual comigo, baseado em descoberta mutua, amizade, etc. Pelo menos se eu “me apaixonasse” por eles, eu não teria me ferrado, pensei. Bom, adivinhem? Tudo o que aconteceu foi que eu continuei a manter relações traumáticas com homens, só que depois deles “se sentirem atraídos” por mim (me convidarem para bares, ou tanto faz) eles simplesmente iriam perder o interesse em mim por que eles não podiam obter de mim o que queriam, e iriam encontrar outra mulher que era mais compatível, mais cedo ou mais tarde. Isso foi extremamente doloroso. E não impediu alguns homens de me estuprarem, de qualquer maneira.
Isso foi tão confuso e doloroso e eu pensava tanto nisso, que comecei a fazer diversas perguntas aos outros, para ver o que eles tinham experienciado. As coisas que eu comecei a perceber, pouco a pouco, foram:
1 – Que a intensidade da união-traumática poderia diminuir depois de algum tempo mantendo o homem como um amigo ou conhecido.
2 – Que o “amor” em questão não tinha nada a ver com o caráter individual dos homens ou o fato de eu aprecia-los pelo que eles eram, mas tudo a ver com o que eles representavam para mim – geralmente uma figura de autoridade, sendo muito mais velhos que eu, ou tendo um status mais elevado. Isso atualmente me permitiu ve-los pelo que eles realmente eram (mentirosos estupradores e cuzões). Quanto mais distante e frios eram, ou se não tivessem decidido me invadir fisicamente, mais doloroso o “amor” (união traumática) seria.
3 – Além disso eu reconheci para mim mesma que esse sentimento de “amor” foi muito intenso para suportar e nunca me levou a lugar nenhum, exceto à desolação. Não era natural e era um sinal de que o relacionamento não era saudável. Presumi que deveria haver um problema na forma como eu amava, e se isso era realmente amor não poderia ser tão doloroso e ilusório. Então eu comecei a procurar por que isso aconteceu comigo, para quebrar o padrão de alguma forma. Comecei a prestar atenção em como isso funcionou e o que causou à mim.
4 – Eu decidi parar de procurar um “relacionamento amoroso” com um homem até que eu tivesse me resolvido, e também, começar a procurar homens com quem eu pudesse estar em igualdade na idade e no status, para prevenir a ligação-traumática. Eu disse a mim mesma “você não vai sair com um homem até saber se pode “amar” sem sentir tanta dor”. Se eu fosse sentir afeto (amor), isso teria que ser um sentimento de calma e serenidade, de preenchimento e felicidade, e não deveria haver nenhum medo, aversão à perda, ansiedade ou qualquer coisa assim em relação ao homem, caso contrário, isso significaria que não era amor, mas sim uma união traumática, e eu deveria ficar longe do cara, ou esperar espairecer até tomar uma decisão consciente. A sedução em si era errada, artificial e alienante, por que me tratava como algo à ser possuído, então se eu fosse ter um relacionamento físico com um homem, isso teria que ser depois de algum tempo de amizade e afeto, e viria “naturalmente”.
5 – Logo depois eu percebi que estar constantemente e secretamente esperando por um relacionamento amoroso em qualquer lugar que eu fosse era em si doloroso, por que sempre acabava com um sentimento de solidão, insatisfação, como se algo especial não estivesse acontecendo – em um estado de expectativa de acontecer algo externo à mim, invés de me concentrar em mim. Isso me fez inerentemente sozinha e vazia, como sendo apenas metade de uma pessoa, com a necessidade de ser preenchida por um homem (ou outra pessoa). Uma falta inerente e não um preenchimento. Como se eu não pudesse suportar estar comigo mesma, eu tinha que desaparecer em um homem / relacionamento para “existir” – isso é um ódio extremo às mulheres e uma aniquilação da individualidade. Esperando para depender dele, e esperar por ele para receber amor, e é claro, isso nunca viria. Eu finalmente vi a reversão total e a mentira em toda essa merda. Eu percebi que eu tinha que desistir do intenso desejo de estar em um relacionamento e assim não me sentir constantemente alienada. Eu me lembro muito bem de marcar essa decisão e sentir um senso de liberdade e felicidade em estar comigo mesma depois disso. Pareceu como uma reconciliação.
A partir daí as coisas se desdobraram muito rápido. Isso foi quando eu me identifiquei seriamente com o feminismo, quando eu percebi que PNV, invasão física sexualizada das mulheres, e controle do nosso sistema reprodutor era a forma que os homens nos oprimem e nos prejudicam. Que PNV é inerentemente um prejudicial, humilhante e nós não deveríamos ser penetradas. E quando eu entendi a estrutura geral da violência masculina e do patriarcado, meu mundo inteiro desmoronou.
Bem, adivinhem? Os homens não estavam interessados em mim além de tudo. Por que eu sempre me mantinha fora de qualquer tipo de “sedução” antes de conhecer bem o cara, eles simplesmente se afastavam de mim rapidamente, antes mesmo de eu poder conhece-los de fato. Har har. Isso abriu meus olhos. Isso me fez ver que homens não estavam interessados em um relacionamento igual a pesar de tudo com mulheres. Nenhum deles. Não existiam “caras legais” ou exceções. Eles não estavam interessados em mim, nem mesmo como amigos, por que não podiam fazer comigo o que eles queriam. Tudo o que eles queriam era poder me usar como um buraco para manter PNV e como uma propriedade deles, por que essa era a minha função como mulher num mundo de homens, e se eu não poderia cumprir essa função, eu não era de interesse deles.
E depois de estipular algumas regras finais para interagir com homens, para me proteger de seu repugnante ódio às mulheres (abertura completa para o feminismo, sem nenhum sinal de misoginia, capaz de conversar sobre isso sem entrar em argumentos defensivos ou me fazer sentir estranha de qualquer maneira), homens simplesmente desapareceram da minha vida. Nenhum deles nunca preencheu o critério, mesmo que minhas regras não fossem radicais, mas individualistas.
Eu vi que por mais esforço individual que eu pusesse em uma relação com um homem, mesmo sem PNV ou “sedução”, seria sempre desigual, por que eles são nossos opressores e raptores, e eles se alimentam da energia que gastamos tentando muda-los. Nunca haveria proteção completa de uniões-traumáticas com eles, ou do medo da sua violência, ou de ser afastada de mim mesma. Não importa o que eles fazem individualmente para serem caras legais ou não, isso é o que eles são e representam como a classe masculina. Até hoje, se um homem é legal comigo, ou apenas sorri, eu ainda posso sentir esta “atração” e gratidão que eu sentia antes e tentei me livrar, o que simplesmente significa que homens ainda são nossos raptores e não existe uma maneira que possamos completamente fugir da síndrome de Estocolmo enquanto eles nos mantem em cativeiro. Que é precisamente por isso que eu sei que tenho que ficar longe deles o máximo que puder.
Então sim, o final do processo de desmascarar as mentiras dos homens sobre amor e relacionamentos foi o início do separatismo dos homens e o inicio do feminismo radical!”

Traduzido de: http://witchwind.wordpress.com/2013/05/08/the-butterflies-or-unpeeling-the-politics-of-love-part-i/