O que então pode o rótulo anti-macho significar possivelmente quando aplicado aos trabalhos que expõem estes fatos e convidam mulheres a libertar nossos Eus? O fato é que os rotuladores não pretendem comunicar um significado racional, nem provocar um processo de pensamento, mas em vez disso bloquear o pensamento. Eles pretendem rotular para conduzir uma mensagem emotiva profunda, provocando os medos implantados de todos os pais e filhos, congelando nossas mentes. Porque escrever um livro “anti-macho” é proferir a blasfêmia definitiva.
Assim as mulheres continuam a ser intimidadas pelo rótulo anti-macho. Algumas sentem uma necessidade falsa de traçar distinções, por exemplo: “Eu sou anti-patriarcal mas não anti-macho.” A coragem de ser lógica – a coragem de nomear – exigiria que nós admitimos para nós mesmas que os machos e somente os machos são os autores, os planejadores, os controladores, e os legitimadores do patriarcado. O patriarcado é a pátria dos machos; é a Terra do Pai; e os homens são seus agentes. A resistência primária à consciência desta realidade é descrita precisamente em Sisterhood Is Powerful: “Pensar que nosso homem é a exceção, e conseqüentemente, nós somos a exceção entre mulheres.” Está no interesse dos homens (tal como os homens no patriarcado percebem seu interesse) e, de uma maneira superficial mas Auto-destrutiva, de muitas mulheres, esconder este fato, especialmente delas mesmas.
O uso do rótulo é uma indicação de limitações intelectuais e morais. Apesar de toda a evidência que as mulheres são atacadas como projeções do Inimigo, os acusadores perguntam sardonicamente: “Vocês pensam realmente que os homens são o inimigo?” Esta enganação/reversão é tão profunda que as mulheres – mesmo feministas – são intimidadas em Auto-engano, se tornando as únicas Auto-descritas oprimidas que são incapazes de nomear seu opressor, referindo preferivelmente a “forças”, “papéis”, “estereótipos”, “repressões”, “atitudes”, “influências” vagas. Esta lista podia continuar. O ponto é que nenhum agente é nomeado – somente abstrações.
O fato é que vivemos numa sociedade profundamente anti-fêmea, uma “civilização” misógina na qual os homens coletivamente vitimizam as mulheres, nos atacando como personificações de seus próprios medos paranóicos, como O Inimigo. Dentro desta sociedade são os homens que estupram, que extraem a energia feminina, que negam às mulheres poder econômico e político. Permitir-se conhecer e nomear estes fatos é cometer atos anti-ginocidas. Atuar desta maneira, movendo-se através dos labirintos da sociedade anti-fêmea, exige a nomeação e superação dos obstáculos construídos por seus agentes masculinos e instrumentos femininos simbólicos. Como uma cristalização criativa do movimento além do Estado de Paralisia Patriarcal, além das limitações do rótulo anti-macho, isto é absolutamente Anti-androcrata, A-ssombrosamente Anti-macho, Furiosamente e Finalmente Fêmea. ”
— Mary Daly em Gyn/Ecology: The Metaethics of Radical Feminism