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Como começa o feminismo ‘sexpositive’ para Catherine Mackinnon

“Começa com a idéia de que as pessoas, mesmo as pessoas que como um grupo são pobres e impotentes, fazem o que elas fazem voluntariamente, assim mulheres que posam para a Playboy estão lá por vontade própria. Esquecem as realidades da situação sexual/econômica das mulheres. Quando mulheres expressam nosso livre arbítrio, nós abrimos nossas pernas para uma câmera.Implícito aqui, também, está a idéia de que um corpo físico natural existe, anterior à sua construção social através da observação, o qual pode ser capturado e fotografado, mesmo ou especialmente, quando “em poses atraentes” – essa é uma citação da Filosofia Playboy. Então nos dizem que criticar isto é criticar “idéias”, não o que está sendo feito tanto para mulheres na revista ou para mulheres na sociedade como um todo. Qualquer crítica do que é feito é então taxada de crítica moral, o qual, como liberais sabem, pode envolver quaisquer opiniões ou idéias, e não fatos sobre a vida. Esta edificação defensiva inteira, por ilógico que pareça, depende completamente e coerentemente nas cinco dimensões cardinais do liberalismo: individualismo, naturalismo, voluntarismo, idealismo, e moralismo. Ou seja: membros de grupos que não têm escolha a não ser viverem a vida como membros de grupos são tomados como se fossem indivíduos únicos; as características sociais são então reduzidas a características naturais; preclusão de escolhas se torna livre arbítrio; realidade material é transformada em “idéias sobre” a realidade; e posições concretas de poder e impotência são transformadas em julgamentos relativos de valor, aos quais pessoas razoáveis podem formar preferências diferentes mas igualmente válidas.

O que eu acabei de descrever é a defesa ideológica da Pornografia. Dadas as conseqüências para as mulheres desta estrutura teórica formal, conseqüências que vivemos diariamente como desigualdade social (sem mencionar sua postura inerente de culpe-a-vítima), eu não acho que possa ser dito que o Feminismo Liberal é feminista. O que ele é, é liberalismo aplicado às mulheres.”

– Catherine McKinnon, Feminism Unmodified: Discourses on Life & Law ( Ed. Catherine MacKinnon., Cambridge: Harvard University Press, 1987, p. 136)