Skip to content

Heresia Lésbica – A Criação da Diversidade Sexual (cap. 1) – Sheila Jeffreys

Na década de 1980, umabatalha séria foi travada relativa ao significado de lesbianismo. Nesseconflito ideológico, as definições concorrentes eram aquelas do feminismolésbico e da sexologia. Algumas lésbicas, particularmente as adeptas daencenação de papeis, estão se opondo à definição politica do feminismo lésbicoem prol de uma baseada na diversidade sexual. Lésbicas que se vêem comosexualmente diversas estão aceitando os pressupostos de categorização propostospelos cientistas do sexo – Rechard Krafft-Ebing, Henry Havelock Ellis esimilares – no séc. XIX. Os sexologistas e seus seguidores modernos vêem olesbianismo como mais um dentre os vários comportamentos sexuais estranhos quese afastam da norma, isto é, o sexo heterossexual com penetração do pênis,posição “papai-mamãe”. Outros grupos de desviâncias sexuais incluemhomens gays, mas também pedófilos, transexuais, variedades de fetichistas.Excetuando-se as lésbicas, essas categorias são principalmente relativas acomportamentos sexuais masculinos e mulheres aparecem apenas como vítimasdo comportamento sexual desviante.

 

A política dadiversidade sexual confina as lésbicas à companhia de homens gays e outros gruposde desviantes sexuais. As políticas da diversidade sexual têm se manifestado emmuitos dos textos da nova literatura “queer”. As políticas do feminismo lésbicojogam as lésbicas para a companhia da classe política das mulheres, ou paraseus próprios recursos enquanto lésbicas. Feministas lésbicas têm visto a simesmas como o modelo para as mulheres livres, e não como sexualmente diversas.É uma visão diferente. Para que compreendamos as raízes desse conflito dedefinições será útil olhar para o momento em que se deu a criação da diferençasexual na sexologia, e como as acadêmicas lésbicas e gays compreenderam essefenômeno.

 

Teóricas lésbicas egays, como Mary MacIntosh e Jeffrey Weeks, argumentaram de maneira bastantepersuasiva que a ideia de homossexual como um tipo específico de pessoa, aideia de um “papel homossexual”, é uma invenção relativamente recente, dos sec.XVIII ou XIX. Antes disso, o desenvolvimento dessa atividade sexual entrehomens, apesar de estigmatizada, era vista como algo que um homem qualquerpoderia fazer. O conceito “do homossexual” – como um homem cujo comportamentotem uma causa específica, que tem um destino homossexual perceptível, cujosinteresses sexuais se direcionavam exclusivamente àqueles do mesmo sexo, comcaracterísticas igualmente perceptíveis – ainda não havia se desenvolvido.

 

Historiadorasfeministas e lésbicas, como Lillian Faderman e Caroll Smith-Rosenberg, tambémargumentaram que uma identidade lésbica específica, baseada nas categoriassexológicas, foi criada no final do séc. XIX. Elas mostraram que, antes disso,mulheres britânicas e americanas de classe média, casadas ou solteiras,engajavam-se rotineiramente em amizades apaixonadas, românticas efrequentemente muito duradouras entre si, o que incluía expressões constantesde amor pleno, dormir nos braços uma da outra, ou dividir o mesmo travesseiroaté por uma vida inteira, sem que isso fosse visto como algo incomum oususpeito. Havia algumas mulheres que, no entanto, ao longo do sec. XIX teriamse enquadrado no que viria a ser mais tarde o modelo sexológico, algumasinclusive teriam se vestido em roupas masculinas e amado mulheres apesar daausência daquele modelo. Uma mulher, por exemplo, na Yorkshire do século XIX,Ann Lister, de fato se envolveu em relacionamentos sexuais entusiásticos comsuas vizinhas, até o ponto de contrair doenças venéreas, segundo o que escreveuem seu diário, e realmente compreendia-se como “diferente”. Mas a existência de mulheres assim não parecia influenciar a inocência com a qual amigas apaixonadas levassem suas amizades, nem influenciou a aceitabilidade social do amor entre duas mulheres. Foi o advento da sexologia que tornou pública eestigmatizou uma categoria de “diversidade sexual”.

 

Historiadoras lésbicase gays têm discordado sobre a vantagem ou desvantagem dos impactos dasconstruções sexológicas para o desenvolvimento das identidades lésbica e gay.Historiadoras feministas e lésbicas, como Lillian Faderman, CarollSmith-Rosenberg e eu mesma,percebemos a sexologia como uma força hostil queminou o feminismo, estigmatizou as amizades apaixonadas entre mulheres ecriou o estereótipo destrutivo da mulher invertida masculinizada. Historiadoresgays, como Jeffrey Weeks, tendem a ser mais otimistas e dizem que acategorização sexológica ajudou no desenvolvimento dos movimento pelos direitoshomossexuais, ao prover uma identidade definitiva aos homens homossexuais, emtorno da qual poderiam se unir e organizar [4].

 

É importante lembrarquais os componentes da construção sexológica, não apenas pelo fato de ter setornado alvo de controvérsia, mas porque essa ideia tem reaparecido na agendapolítica lésbica e é útil conseguirmos reconhece-la. Um componente aceitogeneralizadamente no modelo sexológico é a atribuição genética. Havelock Ellis,o sexologista autor de Sexual Inversion em 1897, foi bastante influenteem construir o estereótipo da lésbica na Grã-Bretanha. Ele dizia que “qualquerteoria sobre a etiologia da homossexualidade que desconsidere o fatorhereditário da inversão não deve ser admitida”, e acrescenta como evidencia a“freqüência de inversão entre parentes próximos do invertido”. Essa ideialevou a ideias bastante curiosas em seus casos clínicos. Parece que, quando sepedia para que os pacientes produzissem evidências a respeito do fatorhereditário, eles eram bastante criativos em suas respostas. Um homem ofereceuo seguinte:

 

“Alguns diziam que meuavô talvez tivesse um temperamento anormal, porque apesar de ser de origemsimples, ele se organizava e trabalhava ardorosamente como missionário e setornou um exímio linguista, traduzindo a bíblia para uma língua ocidental eeditando o primeiro dicionário daquela lingua.’ [6]

 

Realmente, isso podeparecer suspeito para alguns, mas não necessariamente conectado à homossexualidade.Mas a ideia da hereditariedade genética inspirou alguns ativistas dos direitoshomossexuais nos anos 90, na Grã-Bretanha e na Alemanha. Ofereceu apossibilidade de apelar à simpatia da população e de repelir qualquerlegislação hostil, baseados na premissa de que homossexuais foram apenascriados pela natureza, em vez de serem pecadores, e portanto deveriam seraceitos. Radclyffe Hall, ao aceitar os argumentos sexológicos na década de 20,empregou essa estratégia em The Well of Loneliness e fez comque Ellis escrevesse o prefácio do livro, para que o argumento dela pudesse servisto como apoiado pela ciência. O modelo sexológico se tornou mais sofisticadoao ser acrescido da psicanálise, que postulava uma causa determinista semelhante, apesar de psicológica e não biológica. Dado que a psicanáliseapareceu para oferecer meios de cura, acabou por ser menos popular com osinvertidos e se tornou mais popular com os sexólogos dos anos 50, que seempenhavam em eliminar a homossexualidade por meio de engenharia psicológica.Essas duas versões sexológicas estão sendo revividas. A nova popularidade das explicações biológicas será examinada no capítulo sobre “A Lésbica Essencial”.

 

A controvérsia atualsobre o impacto da sexologia se sustenta na maneira como ela foi selecionada eempregada pelos próprios invertidos. O trabalho de Edward Carpenter,ativista do Direitos Homossexuais Britânicos, é um bom exemplo do que seriavisto por alguns historiadores como o uso positivo dessas ideias. Ele baseou muitode seu trabalho pela aceitação social da homossexualidade no trabalho de umaformidável lista de sexologistas. Ele aproveitou a ideia de hereditariedadegenética para construir sua teoria do “sexo intermediário”. Em seu trabalho,ele reproduziu o entendimento de alguns sexólogos de que o terceiro sexo ousexo intermediário consistia na ordenação biológica de característicasmasculinas e femininas em combinações incomuns. Isso fica muito claro em suadescrição dos “espécimens extremos”. O macho intermediário extremo seria um‘tipo distintamente feminino, sentimental, destituído de vigor, delicado em seuandar e em suas maneiras’. A versão extrema da fêmea ‘homogênica’ derivariatambém de características de gênero inapropriadas.

 

“uma pessoanotavelmente agressiva, passional, de movimentos masculinos, pragmática em suavida, sensata em vez de sentimental no amor, frequentemente despojada,alternativa em suas vestimentas; seu corpo é musculoso, sua voz é grave natonalidade; seu quarto é decorado com cenas de esportes, pistolas etc e nãodispensa o cheiro de erva na atmosfera; ao passo que seu amor (geralmente umespécimen delicado e feminino de seu próprio sexo) é frequentemente histérica,semelhante às amantes comuns dos homens, e às vezes quase incontrolável” [8]

 

O cheiro de erva era provavelmente, pra nossa decepção, tabaco. Tais espécimens extremos, Carpenternos ensina, são raros. A maioria não tem uma aparência incomum. O corpo deuma homogênica ‘mais normal’ seria ‘feminina até os detalhes’, mas sua‘natureza interior é em grande parte masculina’.

 

“um temperamentocorajoso, ativo, original, razoavelmente decidido, não muito emotivo; amante davida fora de casa, de jogos e esportes, da ciência, da política, e até mesmonegócios; é organizada e gosta de posições de responsabilidade, às vezesfazendo uma líder excelente e generosa.” [9]

 

Hoje em dia, seriadifícil dizer o que há de masculino nessa descrição. Na verdade, mostra outracaracterística da abordagem sexológica sobre a fêmea invertida. Ativistashomossexuais como Carpenter e homens cientistas como Ellis sempre tendiam aassociar assertividade, independência e uma mentalidade feminista, em mulheres,com o lesbianismo. Tais qualidades eram suficientes para lançar acusaçõesde inversão nos anos 90, da mesma forma que o são hoje em dia.Mulheres de personalidade forte poderiam ser classificadas como anti-naturais.

 

Outra característica daabordagem sexológica sobre a lésbica era prescrever encenação de papeis pararelações lésbicas. Carpenter segue essa tradição ao dizer que aquelas muitomasculinas, esportistas com pistolas geralmente prefeririam ‘um espécimendelicado e feminino de seu próprio sexo’. [10] Os sexólogos explicam esse fenômeno dizendo que existem dois tipos de mulheres homossexuais. Existem aslésbicas congênitas, invertidas, que têm uma orientação masculina, eexistem ‘pseudolésbicas’ que teriam sido heterossexuais se não tivessem sidovitimas dos estratagemas da verdadeira invertida. A segunda separeceria e agiria como a heterossexual efeminada de seu tempo. Aqui vemos serem fundadas as bases para a ideia de que a encenação butch/femme seria a relação lésbica essencial.

 

O interessante é que omodelo sexológico do lesbianismo não era necessariamente baseado em contatogenital. Os sexológos jogavam longe suas redes e incluíam, em seus estudos decaso, mulheres cujas relações teriam sido lidas como a mais inocente dasamizades apaixonadas. Por essa razão, historiadoras feministas consideraramo trabalho dos sexólogos particularmente danoso. Este criou uma suspeita quelimitava as possibilidades das amizades entre mulheres para qualquer uma quenão desejasse ser jogada em uma minoria estigmatizada e encenadora de papeis.O trabalho dos sexólogos estimulou a campanha, como Faderman mostra em seu livro,para prevenir mulheres e meninas contra o lesbianismo nas escolas euniversidades até que, no início dos anos 20, amizades apaixonadas entremulheres haviam adquirido de maneira generalizada a aura de perversão. LillianFaderman culpa a sexologia por ter tornado o lesbianismo algo perverso,proscrito e maligno. Os efeitos foram:

 

“muitas mulherescorreram para o casamento heterossexual, desenvolveram nojo ou pena de simesmas caso aceitassem o rótulo de invertida. No começo do século XX, aliteratura popular europeia, influenciada expressivamente pelos sexólogos, sereferia a “milhares de seres infelizes” que “experienciam a tragédiada inversão em suas vidas”, e a paixões que acabavam em “loucura ousuicídio”. Na imaginação popular, o amor entre mulheres tinha se ligado àdoença, insanidade e tragédia.” [12]

 

Historiadorasfeministas lésbicas veem a categorização sexológica de lésbicas como engrenagemde um mecanismo de controle social tanto do amor entre mulheres quantodo feminismo, fenômeno que é particularmente poderoso em sua combinação.

 

Caroll Smith-Rosenberg,escritora do artigo viral The Female World of Love and Ritual sobreamizades apaixonadas, vê golpe sexológico sobre o discurso feminista nos anos20 como nocivo. Ela fala sobre a importância, na historia feminista e lésbica,da “nova mulher” ao final do século XIX. As ’novas mulheres’ formavam amizadesapaixonadas para se apoiarem na universidade, trabalhavam em casas deassistência [settlement houses] e no desenvolvimento de carreiras deassistência social e professorado. Elas ‘teceram a partir de suas mães’amizades cheias de amor, frequentemente passionais, no tecido de seu novomundo. [14] Elas eram reformistas sociais que se articulavam e criavam umamáquina de mudança, muitas vezes bastante feminista. Elas evidentemente eram aestrutura de muitas campanhas feministas, de maneira mais notável havia no RUhavia a União Política e Social de Mulheres (WSPU). Smith-Rosenberg explica quemédicos da era vitoriana tardia caracterizaram as ‘novas mulheres’ comomasculinas e, em seguida, como “lésbicas masculinizadas”. Ela percebe adefinição de lesbianismo oferecida pelos sexólogos como subordinadora daslésbicas, não empoderadora. ‘Ao transformá-la em um objeto sexual, fizeram delamaterial para a regulação política do Estado’. [15]

 

Amizades românticas ouapaixonadas geraram controvérsia entre acadêmicas lésbicas. Enquanto eramcelebradas por Smith-Rosenberg e Faderman, foram desprezadas como produto declasse-média, ou como anti-sexo, por outras. A discordância sobre amizadesapaixonadas surge de diferentes pontos de vista sobre o que constitui aidentidade lésbica. Quando escreveu Superando o Amor por Homens,Faderman viu, nas mulheres envolvidas em tais amizades, as mulheres feministasda década de 70. Faderman viu o feminismo-lésbico como um análogo das amizadesromânticas, que ela via como algo em que ‘duas mulheres são tudo uma para aoutra e tinham pouca conexão com homens, que eram tão alheia e totalmentediferentes’. Ela sugere que ‘se as amigas românticas de outras épocas vivessemhoje, muitas teriam sido feministas lésbicas; e se as feministas lésbicas dehoje vivessem em outras épocas, a maioria delas teriam sido amigas românticas”.A definição de Faderman sobre o lesbianismo não dependia de contato genital.Ela diz ‘o amor entre mulheres foi primariamente um fenômeno sexual apenas nafantasia literária masculina’. [17] Ela fundamenta sua definição em emoções ediz que ‘o contato sexual pode ser parte da relação em maior ou menor grau, oupode estar completamente ausente’. Ela diz que feministas lésbicascontemporâneas não são inocentes quanto ao sexo, mas ‘o aspecto sexual de suasrelações geralmente possui menos significância que a base emocional e aliberdade que têm para definirem a si mesmas’ [18]. Ela sugere que muitasrelações entre feministas lésbicas continuam muito depois do ‘componente sexualter se

esvaído’.

 

Os críticos de Fadermana acusaram de traição, de “dessexualisar” o lesbianismo ao incluir, em suadefinição, mulheres que não tiveram contato genital no passado ou que tivessemcontato genital pouco frequente no presente. [19] Para aquelas que veem o lesbianismo como diversidade sexual, amigas românticas claramente não qualificam. Mas feministas, para quem escolher e amar mulheres é a base daidentidade lésbica, elas qualificam sim. A conexão genital é difícil deprovar. As lésbicas, ao longo da história, podem se revelar bem poucas, e ahistória das lésbicas começará apenas a partir do século XIX, se o modelosexológico for adotado. A história da heterossexualdiade nunca foi limitadaà comprovação do contato genital. A heterossexualidade é uma instituição política que não começou com a sexologia em 1890. Não é apenas mais umadiversidade sexual. De acordo com o que eu e outras membras do London LesbianHistory Group dissemos, o objetivo da historiadora lésbica é analisara história da resistência feminina à heterossexualidade como instituição, emvez de apenas buscar mulheres que se enquadrem numa definição surgida no séculoXX baseada na sexologia. [20]

 

A nova caracterizaçãonão foi simples e terminantemente rejeitada por mulheres que amavam mulheres.Algumas decidiram adotá-la como sua auto-definição na década de 20. Havia uma pressão para que mulheres fossem sexualmente ativas. Como detalhei em outros artigos, a ‘revolução sexual’ dos anos 20 visava a curar o feminismo,o ódio aos homens, o lesbianismo e apoio entre mulheres solteiras, por meiocientistas ganhando o entusiasmos das mulheres heterossexuais (e preferencialmentetodas) para a atividade sexual com penetração. [21] O prazer sexual dasmulheres era esperado para subordiná-las ao marido no casamento e em outrasáreas da vida. Havia uma pressão considerável para resignar mulheres à posição”papai-mamãe” na heterossexualidade de maneira que seus prazerespudessem ser orquestrados para a subordinação. Jovens mulheres heterossexuaisaceitaram essa distração, Smith-Rosenberg argumenta.

 

‘Separando os direitosdas mulheres de seu contexto econômico e politico, eles fizeram da jornada dafilha por prazeres sexuais, e não das exigências da mãe por poder político, apersonificação da liberdade feminina.’ [22]

 

A estigmatização dolesbianismo foi uma arma poderosa que poderia ser usada para prensar asmulheres na heterossexualidade. A lésbica marginal era um complemento necessário para a dona de casa entusiasmada e heterossexual.

 

Mulheres que amavam mulheres e entraram em contato com o discurso sexológico tiveram que escolhercomo se relacionar com a nova prescrição. Elas poderiam abandonar apossibilidade de estabelecer amizades apaixonadas, na tentativa de evitar oestigma do ser desviante. Elas poderiam continuar com suas amizadesapaixonadas, rejeitando o modelo sexológico como algo que nada tem a ver comelas. Muitas definitivamente escolheram este percurso, mas ele deve ter sidobastante tortuoso. A outra opção era aceitar a nova identidade oferecida.Smith-Rosenberg e Newton concordam que muitas o fizeram, e que suas decisõestiveram conseqüências para o feminismo e para a posterior história daslésbicas. Elas se ressentiam da geração anterior por não lhes oferecer especificamente uma definição sexual para o amor entre mulheres, em uma época onde o sexo se tornava mandatório; e por falharem, assim, em fornecer à nova geração um “vocabulário sexual”. O exemplo mais famoso é, evidentemente, RadclyffeHall, que optou por utilizar o modelo sexológico em The Well of Loneliness,acreditando que se alcançaria uma simpatia social pelas lésbicas caso fossemvistas como geneticamente deficientes em vez de deliberadamente pervertidas.

 

Smith-Rosebergargumenta que a adoção da “lésbica masculina” estereotípica teve implicaçõesruins para o feminismo. Houve uma cisão entre as novas lésbicas e as geraçõesfeministas anteriores, de forma que elas estariam vulneráveis enquanto oshomens reafirmavam seu poder em oposição às vitórias feministas. A adoção desímbolos da masculinidade não foi libertadora, apesar dos esforços emrevesti-los de um significado novo e positivo para as lésbicas, feitos a partirdos anos 20 e por lésbicas mais novas. “Elas falharam” nessa tarefa, diz aautora. Faderman explica que a adoção de um status estigmatizante demarginalidade fez com que a teoria lésbica se ocupasse de destruição e puniçõesaté os anos 60.

 

A historiadora lésbicaEsther Newton tem uma perspectiva bastante diferente. Ela despreza a maneiracomo historiadoras lésbicas feministas escrevem sobre o mundo das amizadesapaixonadas, “o século XIX se torna um tipo de Idade de Ouro das lésbicas,cheia de casais feministas inocentes e amorosos” [23]. Ela vê a “lésbicamasculina” como uma identidade que foi abraçada por aquelas que queriam “fugirdo modelo assexual da amizade romântica”. Ela diz que Radclyffe Hall queriafazer da mulher que ama mulheres um ser sexual, e só poderia fazer issoadotando o estereótipo masculino nos termos impostos pelos machos. “Paratornar-se assumidamente sexual, a Nova Mulher precisou entrar no mundomasculino, seja como heterossexual nos termos dos homens… ou como uma lésbicatravestida de homem” [24]. Ela vê isso como um ato progressista e radical quedesafia os estereótipos de gênero. Ao fazer a mulher encenar o papel masculino,Hall ‘questiona a inevitabilidade das categorias de gênero tradicionais’, mas elatambém ‘as aprova’. Ela concorda que os homens têm usado a imagem da butch para‘condenar lésbicas e intimidar as mulheres heterossexuais’, e reconhece que avisão de Hall sobre a identidade lésbica, caracterizada como ‘diferença sexuale masculinidade é inimiga da ideologia lésbica feminista’ [25].

 

As interpretações bastante diferentes do impacto da sexologia que se espalharam hoje em dia jáeram alvo de críticas quando o romance foi publicado pela primeira vez.Feministas se mostravam frequentemente descontentes com a criação de Hall. VeraBrittain é uma das feministas que editaram Time and Tide. Elaconhecia bem o potencial do amor entre mulheres desde seu envolvimento comWinifred Holtby em uma amizade apaixonada [26]. Em sua resenha, ela admite aexistência de uma categoria de lésbicas que é anormal e uma que não é, que elaidentificaria em seu livro como invertidas versus pervertidas.

 

“Mulheres do tipo deStephen Gordon, desde que tenha sua anormalidade como inerente e não apenascomo culto de um erotismo exótico, merece compreensão e compaixão totais,partindo de todas as pessoas que tiveram a sorte de escapar de uma das maiorescrueldades da natureza” [27]

 

Brittain claramente nãose vê como alguém que possua qualquer conexão com tais aberrações, sejam asinvertidas ou as pervertidas, apesar de amar mulheres. Isso mostra que oimpacto da sexologia é que as lésbicas fossem separadas da classe das mulheres.O ‘culto do erotismo exótico’ soa tentador, quase que um chamariz para a agenda‘queer’. Contudo, ao levarmos em consideração as manifestações exageradas defeminilidade e masculinidade de Stephen e de sua amante Mary Llewellyn,Brittain rejeita a mensagem de que isso viria do biológico. Ao contrário, elacondena a imposição de uma distinção de gênero tão exagerada, ao final doséculo XIX.

 

“Claramente parece provável que problemas como esse se intensifiquem com o exagero das diferenças sexuais, que foram marcadas de forma peculiar em algumas épocas, e que a classe média inglesa dos séculos XVIII e XIX vivenciava. A Sra. Hall parece dar comocerto que a ênfase intensa nas características sexuais seja parte da educaçãocorreta de um ser humano; sendo assim, ela define a mulher ‘normal’ comodependente, ‘irritantemente feminina’ e chega a dizer que atitudes que tomam oamor como um ‘fim em si mesmo’ são um atributo necessário de ser mulher” [28].

 

Brittain escrevia em1928, muito antes de o termo “gênero” ser usado, mas é capaz de analisarcriticamente o que hoje em dia seria chamado de gênero, vendo sua construção social e política. Brittain não aceitaria a ideia da encenação de papeislésbica, visto que ela claramente acreditava que mulheres não deviam se comportar de modo masculino nem feminino. “Essa confusão entre o que é‘masculino’ ou ‘feminino’ e o que é meramente humano, em nossas máscaras complexas, persiste ao longo do livro”. Ela não aceita que os comportamentos de Stephen na infância seriam uma pista para sua anormalidade.Ela diz que a “suposta predileção sinistra dessa criança” lhe parece apenas”as preferências bastante normais de qualquer menina vigorosa que poracaso possui mais vitalidade e inteligência do que suas colegas” [29]. Ofeminismo sensato de Brittain está em intenso contraste em relação às visões deEsther Newton e das atuais protagonistas das encenação de papeis. É encorajador notar que as feministas dos anos 20 poderiam ser tão resistentes ao modelo sexológico dos invertidos masculinos e das pseudo-homossexuais femininas quanto qualquer feminista lésbica contemporânea.

 

Brittain viu que odesejo feminino por liberdade foi capturado pelo estereótipo da lésbicamasculina, viu que a categorização sexual servia ao controle e não à libertação.

 

“Se um dos resultadosda educação das mulheres, ao final do século XIX, era o de colocar a alcunha de’perversão’ em um ser humano cujo desejo principal era apenas a expressão maisplena de sua humanidade do que permitiam as convenções sociais, então aquelaeducação era de fato uma coisa ruim” [30].

 

É curioso que essadiscussão esteja sendo replicada nos anos 80 e 90, com lésbicas buscando seresumir a estereótipos sexológicos, mesmo aqueles bastante antiquados, porqueos tempos seriam tão diferentes hoje. Uma crítica feminista desses estereótiposfoi parte massiva do movimento lésbico. A reafirmação de papeis é uma rejeiçãoexplícita dos insights lésbico-feministas. Por que ideias da década de 20,adotadas como auto-defesa por um grupo de lésbicas que sentiam não haveralternativas, seriam retomadas com entusiasmo por lésbicas de hoje que têmtantas possibilidades?

 

Newton explica seuinteresse na questão sobre sexologia e Radclyffe Hall ao final de seu artigo.Ela se identifica diretamente com a “lésbica masculina”. Ela coloca que, assimcomo Hall, enxerga o lesbianismo como “diversidade sexual”. Newton é umadaquelas lésbicas dos anos 80 que escolheram o modelo sexológico do lesbianismoem lugar do que ela vê como a influência ultrajante do feminismo lésbico. Elaabraça a sexologia com zelo. Toda a sua linguagem e conceito de lesbianismo vêmdessa fonte. Um exemplo é sua busca por uma explicação para o lesbianismo.Feministas lésbicas não tendem a buscar uma explicação, porque elas não veem o lesbianismo como uma condição minoritária, mas como uma escolha positiva para todas a smulheres. Newton busca respostas na psicologia tradicional. Ela diz que vêo “erotismo mãe/filha’ como ‘componente central da orientaçãolésbica” [31]. Esse é um conceito que deriva da psicanálise. Ela seguedesejando que a “psicologia feminista” venha resolver a “charada da orientação sexual”.

 

Apesar de parecer, nocomeço, enxergar a adoção do estereótipo masculino como uma escolha feita paraa obtenção de uma identidade lésbica nos anos 20, ela demonstra em suaconclusão o compromisso com um certo determinismo psicológico. Ela diz que Halle os sexologistas estavam “escrevendo algo real” quando descreviam as lésbicasmasculinas. Esse era o fenômeno da “disforia de gênero”, ou “um fortesentimento de que o gênero que foi designado como feminino ou masculino nãoconcorda com o gênero percebido pelo indivíduo sobre si” [32]. Essa ideia vemda sexologia. Aparentemente, “disforia de gênero” é imutável e não é sujeita àescolha, porque:

 

“Masculinidade efeminilidade são como dois dialetos da mesma língua. Apesar de todos compreendermosambos, a maioria de nós “fala” apenas um deles. Muitas lésbicas, como StephenGordon, são fêmeas biológicas que crescem pensando e e “falando” o dialeto“errado” [33].

 

Isto não seria sujeitoà mudança na vida adulta porque “a identidade de gênero é determinada na tenrainfância”. Portanto, Newton diz que devemos apoiar as “mulheres masculinas ehomens femininos” porque “muitas lésbicas são masculinas;muitas têm estilos compostos; muitas são enfaticamente femininas”. Seriadifícil imaginar por que exatamente Newton enfatizou o “são” nessa frase, amenos que o tivesse feito para estabelecer a qualidade essencial e inevitávelda ‘masculinidade’ lésbica. Esta claramente não é uma abordagem feminista.Feministas lésbicas acreditam, não apenas por um compromisso ideológico com oconstrucionismo social, mas por conta de sua própria experiência, que ocomportamento humano pode ser mudado. Afinal de contas, feministas estãodemandando que os homens mudem seu comportamento masculino, um comportamentovisto como a afirmação do pertencimento à classe dominante, e a existênciadessa classe depende justamente da subordinação de mulheres. Muitos homenspro-feministas demandam o mesmo. Mas Newton, uma professora de estudos demulheres na State University, em Nova York, nos diz que a masculinidade emlésbicas butch deve ser apoiada, ao mesmo tempo em que tanto esforço feministaé feito para que nos livremos disso nos homens.

 

Newton decidiu “sair doarmário” em 1984 como uma “lésbica butch”. Isto, na minha opinião, foi umadecisão política, apesar de que Newton não gostaria de vê-la desse jeito. Elavê a si mesma, de alguma forma, como essencialmente butch. Ela diz que eraincapaz de se assumir butch antes dos anos 80 porque, sendo ela uma lésbicaeducada de classe média, ela associava a masculinidade às lésbicas da classetrabalhadora, em cujos bares ela se assumiu como lésbica em 1959.Aparentemente, ela precisava achar um jeito “classe-média de ser butch” [34].Ela encontrou isso em um grupo de apoio a butches em Nova York. Ela diz quehouve uma “grande dificuldade de conciliar essa identidade, para muitas de nós”[35]. Como professora de estudos de mulheres, ela deve conhecer a montanha deestudos feministas e masculinos que tentam desconstruir e eliminar a masculinidade.Provavelmente foi devido a esse conhecimento que ela precisou de apoio contra oque ela chama de “ideologia lésbico-feminista dominante”. Parece que as butchesdo grupo estavam determinadas a agir corretamente de acordo com amasculinidade, e viram-se vítimas das limitações do papel masculino. Osprocedimentos de grupo parecem uma paródia alienada da tomada de consciênciados homens contra o sexismo, nos anos 70.

 

“descobrimos que nosfaltavam capacidades sociais, não havia ninguém lá para mediar ou para jogarconversa fora. A maioria de nós tinha dificuldades para falar dos sentimentos,de conversar com intimidade” [36]

 

Elas se preocupavam comcoisas como “não sou alta o suficiente. Você é mais masculina do que eu… Háproblemas intrínsecos ao ser butch? Excesso de controle? Vocês gostariam dechorar mais?”. Contudo, diferentemente dos homens contra o sexismo, essasmulheres não queriam perder a masculinidade que era sua posse preciosa, queriamapenas melhorar alguns problemas que o comportamento masculino lhes dava. As”butches” imitavam a misoginia do comportamento masculino, tal qual éesperado se a masculinidade é justamente baseada no desprezo à mulher e naimportância de não ser uma. Outro tópico, ela diz, eram as “femmes” e”começar a reclamar das femmes e do feminismo”. Isso parece comcomportamento de aquisição de lealdade entre machos, onde homens estereotipadossentam em bares e tentam se convencer de que eles não podem se parecer em nadacom mulheres.

 

Newton parece terbastante ambivalência sobre ser mulher. Em certa época, isso poderia serresolvido em algum grupo feminista de tomada-de-consciência, onde mulheresdiscutiriam, em segurança, seu ódio a si mesmas como membras da categoria demulheres, que é desprezada e inferiorizada, e lá desenvolviam orgulho. Em vezdisso, ela escolheu adotar uma masculinidade caricata e fingir que não tinhaescolha. Dado que é uma acadêmica inteligente e instruída, ela é capaz detransformar sua justificativa pessoal em “teoria” sobre os efeitos positivos dasexologia, que criou o estereótipo da butch que a autora buscaaperfeiçoar. Nos anos 80, o hábito feminista de desenvolver uma auto-crítica pesada e análise política, aliadas à crença na possibilidade demudança pessoal segundo os próprios interesses e os da liberação lésbica, foisubstituído em alguns círculos lésbicos por uma crença na identidade ou destinoinvioláveis e inevitáveis, baseados em sentimentos acríticos sobre “quem vocêrealmente é”. A ideia de uma construção social e, certamente, a ideia de queera bom sujeitar seus “sentimentos” a análise em contexto feminista,tornaram-se ofensivas para a auto-percepção de outras lésbicas. O feminismo interrompia a busca pela verdade.

 

A ideia de homens gays,e de Newton, de que as construções sexológicas tiveram um efeito positivo,encontram sua base teórica em Michel Foucault. Foucault argumenta que,apesar de a sexologia prover a possibilidade de maior controle social por meiode sua criação, ela também continha a possibilidade de um “discurso reverso”.De acordo com essa ideia, os objetos da categorização sexológicas poderiam usaras próprias para combater as forças de poder.

 

“A homossexualidadecomeçou a falar em prol de si, a demandar que sua legitimidade e ‘naturalidade’

fossem aceitas, muitasvezes com o mesmo vocabulário e as mesmas categorias pelas quais foimedicamente desqualificada” [37].

 

The Well of Lonelinessde Radclyffe Hall tem sido encarado por acadêmicas lésbicas e gays como umcriador do “discurso reverso” para as lésbicas. Jonathan Dollimore explica queThe Well:

 

“ajudou a iniciarum discurso reverso no sentido foucaultiano: lésbicas estariam aptas a seidentificar, às vezes pela primeira vez, pela própria linguagem de suaopressão” [38]

 

Hall fez mais do que,meramente, aceitar para as lésbicas um status de amaldiçoadas e marginais. Apartir do momento em que coloca em Stephen “o mártir (religioso) e o marginal(romântico)”, uma imagem poderosa foi criada, a imagem de uma “sensibilidade eintegridade superiores sendo buscadas por pessoas ordinárias e normais”.Dollimore aceita, assim como muitos outros acadêmicos gays, que o”discurso reverso” criado levou a uma politica sexual positiva.

 

“Bizarro como possaparecer, muitos desenvolvimentos posteriores na liberação sexual e naspoliticas sexuais radicais podem ser encontradas nessas apropriações feitas porHall, mesmo aqueles desenvolvimentos que a teriam desagradado, por exemplo aideia de desvio sexual como potencialmente revolucionário, subvertendo o centrocorrupto e o opressivo a partir de suas margens desviantes” [40]

 

A questão agora, muitodebatida por teóricos gays, é até onde o movimento por direitos homossexuais,que usava tais categorias, se tornou refém e enfraquecido por elas, e o quantoele teria de fato sido capaz de subverter as categorias para uso em umaresistência efetiva.

 

O movimento deliberação sexual que Dollimore tem em mente com certeza serve aos interessesdos homens gays. Disso não decorre que para lésbicas, que se inserem na classesexual feminina, essas politicas sejam boas. A adoção de categorias sexológicas paraas lesbicas – apesar de terem parecido úteis a curto prazo, argumentando pelaempatia das pessoas heterossexuais, e oferecendo uma identidade definitiva ao redorda qual nos organizarmos – significou que as lésbicas do séc. XX aceitassem alinguagem e ideias da sexologia para descreverem a si mesmas. O lesbianismo setornou uma minoria desviada, baseada em atividade sexual genital, que aceitacausas biológicas ou psicológicas e frequentemente também aceita as terríveisamarras da encenação de papeis. Lésbicas foram obrigadas a quebrar suacomunidade em dois grupos de acordo com princípios bastante arbitrários, parabuscar suas amigas em uma e suas amantes em outra, e modelar seu comportamentonos comportamentos inadequados, inventados por homens, da feminilidade emasculinidade.Lésbicas também foram divididas com sucesso do restante dasmulheres e feministas. Sendo uma minoria desviada e separada, agora estavam sobcontrole.

 

É compreensível quehistoriadores gays sejam mais otimistas sobre o impacto da sexologia, afinal asituação histórica do homem homossexual é bastante diferente daquela dasmulheres. Os sexologistas associaram a inversão sexual em mulheres ao feminismoe se engajaram em ataques danosos ao movimento de mulheres. Os sexologistas nãoviram os homens homossexuais como representativos de um movimento de libertaçãoque os amedrontasse. Amizades passionais são outro jeito no qual a historia doshomens homossexuais é diferente. Pouco sobre tais histórias tem sido escrito arespeito de homens. Se o potencial para uma tal amizade foi danificado pelaconstrução sexológica, e pode mesmo ter sido, isso não foi uma questão para ahistória gay. Homens gays podem se satisfazer com um status desviante dadoque eles são membros da classe dominante e não precisam lutar contra seu statusde classe sexual. Foucault, afinal, não escreveu qualquer consideraçãosobre lesbicas e pouquíssimo sobre mulheres. É uma medida do poder da cultura eteoria gay masculina que se definam as políticas sexuais particularmente naacademia, que um modelo extremamente inadequado deva ser aplicado tanto amulheres como a homens.

 

É precisamente o modelosexológico do lesbianismo que está sendo adotado, mesmo nos anos 80 e 90, poraquelas lésbicas que mais se opõem ao feminismo. Tais lésbicas estão lutandopara se enquadrar em textos médicos e acreditar que estes estão dizendo a‘verdade’, que a sexologia é a ‘verdade’, sobre si mesmas. É difícil entendercomo o modelo médico poderia receber, de repente, uma nova ocorrência a essaaltura. Estudantes gays sugeriram para mim que isso se relaciona com o modocomo a profissão medica está reafirmando seu comando sobre a homossexualidademasculina devido à sua importância durante uma epidemia de AIDS. Mas isso nãoexplica por que lésbicas como Esther Newton escolhem esse modelo no inicio dosanos 80. Compreender o apelo do modelo medico é um dos objetivos de A HeresiaLésbica.

 

 

O impacto das ideiassexológicas e a década de 20, em particular, podem agora ser vistas como umensaio, se não da construção da identidade lésbica, então ao menos presente nosdebates contemporâneos sobre sexualidade lésbica. Feministas lésbicas e lésbicasda ‘diversidade sexual’ enxergam de maneiras muito diferentes esse períodohistórico. A década de 20 pode ter mais relevância direta para o presente.Podem haver algumas pistas sobre o que houve nos anos 20 para compreendermos arendição da comunidade lésbica na década de 80. Assim como algumas lésbicas,naquela época, adotaram as categorias sexológicas para dar sentido a suasexperiências, e descobriram que isso entrava em conflito com as concepçõesfeministas sobre sexualidade, da mesma forma as lésbicas da sexualidadelibertária, mais recentemente, têm usado a sexologia mais uma vez para explicarseu lesbianismo em termos de biologia, diversidade sexual, butch e femme, comuma similaridade muito grande em relação rejeição das teoria e prática feministas.