Skip to content

Separatismo Não É um Luxo: Algumas ideias sobre Separatismo e Classe

Por C. Maria
Lesbian Ethics Vol. 4 Nº 1 Primavera, 1999

Julia Penelope, em “O Mistério das Lésbicas”, pergunta, “COMO, apesar do escárnio, encarceramento, violência, e pobreza, nós encontramos coragem PARA CRIAR NÓS MESMAS??”(1) Essa questão reacendeu minha raiva por ter ficado desemprega nos dois anos que se seguiram à minha graduação na faculdade em 1986, assim como pela pobreza que mulheres são forçadas a aguentar. Mas como uma Afro-Latina Dyke (N.T:
Sapatão) vivendo e trabalhando no heteropatriarcado racista,(2) eu era levada a
considerar o presente sistema falocrático e me perguntava como seria possível para
Lésbicas Separatistas se mover além de um foco em classe.
Meu ponto nesse texto é que feministas socialistas estão erradas em insistir que
Lésbicas foquem em classe. Elas ignoram a conexão entre privação econômica e o
sistema sexual de castas, onde homens fazem que as vidas das mulheres sejam quase
não vivíveis. Nós vivemos em um mundo que está pronto pra preparar nossas piras
funerárias diariamente.(3) Muitas Lésbicas, ao focarem-se em classe, não entenderam a
importância do separatismo, que é tornar nossas vidas Lésbicas vivíveis no presente.
Isso não é viver “um dia a cada vez.” Antes, Lésbicas precisam ser ativas, criativas, e
participantes rigorosas da nossa realidade presente. Para esse fim, eu concluo com Uma
Proposta.
Socialismo Não é a Resposta
A maioria das mulheres não podia se importar menos com o separatismo. Essa
ignorância proposital não apenas vem de não-feministas e anti-feministas, mas também
de feministas que deviam saber melhor, mas ainda assim escolhem ignorar o
separatismo até mesmo como uma possibilidade. Parte dessa ignorância é causada pelo
medo da represália dos homens. Mas medo sozinho não parou muitas Lésbicas e
Feministas Radicais de imaginar um mundo livre da violência e opressão masculina.
Então, o que mais está por traz dessa ignorância?
A única forma de justificar essa dispensa é a crença entre feministas liberais, socialistas/
da esquerda heterossexuais e lésbicas de que alguns homens, particularmente homens
pobres e homens etnicamente diferentes, são mais oprimidos que mulheres no geral.
Elas dizem que esses homens não se beneficiam da opressão sexual das mulheres. bell
hooks vai até o ponto de justificar crimes sexuais masculinos cometidos contra
mulheres e defender que homens são as reais vítimas.
‘Alienado, frustrado, bravo, ele pode atacar, abusar, e oprimir qualquer mulher
individual ou mulheres, mas ele não está colhendo benefícios do seu apoio a uma
ideologia sexista. Quando ele espanca ou estupra mulheres, ele não está exercendo
privilégio ou recebendo qualquer prêmio positivo; ele pode se sentir satisfeito
exercendo a única forma de dominação a que é permitido’ [ênfase minha – da autora –
].(4)De fato, o abuso físico e sexual que vem do privilégio heterossexual masculino é tão
penetrante e opressivo, que as mulheres menos privilegiadas e as NÃO privilegiadas
muitas vezes se tornam SIM Lésbicas Separatistas.
Aquelas que enxergam Separatismo Lésbico como classista e racista negam as vidas de
Lésbicas Separatistas, muitas das quais não são privilegiadas. Por exemplo, hooks vê
separatismo como puramente uma questão de classe.
‘A maioria das mulheres não tem a liberdade econômica para se separar dos homens,
por causa da interdependência econômica. A noção separatista de que mulheres podem
resistir ao sexismo se retirando do contato com homens reflete uma perspectiva de
classe burguesa.'(5)
hooks assume que todas as Separatistas são brancas e privilegiadas. Mas se o
Separatismo é derivado de uma “perspectiva de classe burguesa”, a maioria das lésbicas
mais privilegiadas seriam Separatistas, ou ao menos considerariam seriamente o
separatismo. E existiriam menos Separatistas racialmente e etnicamente diferentes ou
menos privilegiadas.
No entanto, Separatismo É uma questão econômica. Lésbicas Separatistas estão
dolorosamente conscientes de que é o heteropatriarcado racista o que mantém as
mulheres pobres. Nenhuma mulher, não importa o quão rica, tem poder irrevocável.
Todo homem, não importa o quão pobre, tem algum poder irrevocável.(6) Na economia
heteropatriarcal,(7) TODA mulher está economicamente presa aos homens. Jeffner
Allen explica esse dilema:
‘Ainda que escolhamos viver como Lésbicas, nós somos obrigadas…a permanecer em
relação à economia patriarcal… Nós somos obrigadas a permanecer em relação aos
homens, especialmente para garantir acesso à comida, água, abrigo, roupas, e
frequentemente, pelos bens e dinheiro que devem ser trocados por esses produtos.’
Qualquer mulher que se separa, mesmo que parcialmente, de um homem ou de homens,
irá sofrer economicamente. Viver como uma Separatista implica tomar o risco de que o
heteropatriarcado racista, a qualquer momento, tire os únicos meios de suporte
disponíveis para que obtenhamos nossas necessidades básicas e mantenhamos qualquer
qualidade de vida. Se tornar uma Separatista significa que a Lésbica colocou integridade
acima qualquer outra consideração que a necessariamente a prendesse aos homens.
Feministas Socialistas, no entanto, diriam que mulheres menos privilegiadas deveriam
manter-se aliadas aos homens EM NOSSOS GRUPOS, por que seria do “nosso”
interesse. Mas homens menos privilegiados continuam igualando seus interesses aos
interesses do “nosso grupo.” Se mulheres seguirem a prescrição feminista socialista,
elas se manterão escravas econômicas e sexuais dos homens a que são forçadas servir.
“Liberdade”, para feministas socialistas, significa manter solidariedade com homens
menos privilegiados, não importa o quão sexualmente, fisicamente, ou psiquicamente
abusivos eles são com as mulheres que têm o azar de estar por perto ou envolvidas com
eles. Mulheres não são permitidas a se separar dos homens por nenhuma razão.
Segundo Alison Jaggar:
‘O que a poíttica do separatismo total ignora, todavia, é que alguns grupos de mulheres
têm interesses em comum com alguns grupos de homens. Mulheres trabalhadoras têm
interesses em comum com homens trabalhadores; mulheres Judias têm interesses em
comum com homens Judeus; mulheres diferentemente capacitadas têm interesses em
comum com homens diferentemente capacitados; e mulheres negras têm interesses em
comum com homens negros.’(9)
O que Jaggar não explica é como mulheres negras, mulheres Judias, mulheres
trabalhadoras, e mulheres diferentemente capacitadas, apesar de um forte
comprometimento para acabar com todas as opressão, ainda têm a fortaleza/coragem de
serem Separatistas. Ainda assim, feministas socialistas chamam Lésbicas Separatistas
trabalhadoras, Semíticas,(10) diferentemente capacitadas, Afro-Amerikanas, Latinas,
Amerikanas Nativas [N.T. Indígenas], Asiáticas Amerikanas de racistas, classistas,
antissemíticas, etaristas e capacitistas.
Jaggar continua:

‘… uma politica de separatismo total é necessariamente classista e racista, não importa
o quanto classismo e racismo tenham sido erradicados dentro da cultura de mulheres.
Em parte, é classista e racista pois o acesso à cultura de mulheres é mais difícil para
mulheres pobres e negras, assim como é mais difícil para tais mulheres ser
exclusivamente lésbicas. Em um nível mais fundamental… separatismo total é classista
e racista por que nega a importância das divisões de classe e raça…
Consequentemente, nunca poderá ser efetivo em trazer uma transformação social de
longo alcance’ [ênfase minha].(11)
Jaggar se contradiz imediatamente nessa declaração. Se classismo e racismo estão
exterminados na “cultura de mulheres”, por que ela ainda a vê como classista e racista?
A contradição não a perturba, ou então ela teria pensado melhor esse comentário.
Qualquer coisa desejável é mais difícil de se obter para mulheres menos privilegiadas.
Mas ela prefere focar na ideia de que mulheres menos privilegiadas são suspostamente
incapazes de serem Lésbicas. A mentalidade dela é a mesma que a de muitos países
socialistas, como Cuba, que proclamam que Lésbicas são um resultado de uma
influência burguesa perversa e regressiva. Eles apoiam a heterossexualidade
compulsória fazendo das Lésbicas criminosas.
O feminismo Socialista sofre de uma falta de inteligência moral e ética. Quando
feministas socialistas nos dizem que somos classistas e racistas por sermos Lésbicas
Separatistas, elas estão escondendo sua própria falha moral de considerar o mesmo para
si. Feministas Socialistas presumem que mulheres economicamente, racialmente e
etnicamente oprimidas não são inteligentes o suficiente para tornar nossas vidas o quão
vivível for possível, ou para escolher nossos ideais e como agir em relação a eles. Elas
presumem que nós devemos ser “resgatadas” e colocadas de volta nas “graças” do
heteropatriarcado racista.
É impossível para Lésbicas Separatistas, especialmente para as Lésbicas Separatistas
racialmente e etnicamente diferentes, ignorar raça e economia por que essas são nossas
realidades diárias. Nós entendemos muito bem o que nos divide. E não importa quantas
dessas dicotomias existam, nós NOMEAMOS os agentes responsáveis por essas
FALSAS diferenças impostas.Enquanto Lésbicas Separatistas não têm como ignorar raça e economia, é a força de
nossas diversidades E similaridades que trará transformação social REAL, uma muito
além do alcance do feminismo socialista.
O Resultado
Muitas feministas, particularmente feministas liberais e socialistas, defenderão trabalhar
na economia masculina baseadas no fato de que fazer isso elevará nossa condição socioeconômica.
Mas, como Jeffner Allen afirma, “homens, não mulheres, conquistam uma
vantagem monetária…” (12)
Status de classe é algo que possuem os homens que trabalham na heteroeconomia
patriarcal. As mulheres não têm status de classe. A estrutura de classe masculina define
e prescreve a servidão econômica, emocional e sexual aos homens, enquanto a
heteroeconomia patriarcal constrói a base concreta para a opressão econômica das
mulheres. A heteroeconomia patriarcal, pagando às mulheres os salários mais baixos,
nos coage a permanecer sob dominação racista heteropatriarcal. Terrorismo sexual no
ambiente de trabalho estende a contínua servidão das mulheres além do âmbito
doméstico falocrático. Por sua vez, esse terrorismo força as mulheres à esfera “privada”,
onde o terrorismo pode continuar em segredo. Como o estupro e a pornografia, o
terrorismo sexual no ambiente de trabalho diz às mulheres o que os homens pensam de
nossa presença, nossa existência e nosso lugar no heteropatriarcado racista.
As mulheres não adquirem status de classe por nosso próprio mérito, mas antes como
anexos socio-econômicos, políticos e sexuais dos homens. Qualquer mulher que recuse
ser um anexo de homens perde os “benefícios” da economia masculina. A Separatista
Lésbica não é parte da heteroeconomia patriarcal. Tampouco o é qualquer mulher que
não seja um anexo de um homem.
A pobreza não é algo inteiramente próprio da heteroeconomia patriarcal. Os níveis da
estrutura de classe implicam em que membros tenham mobilidade “ascencional” (13).
Essa mobilidade é mobilidade fálica. As mulheres, seres não fálicos, são
automaticamente excluídas. Para sobreviver, mulheres autônomas, incluindo
Separatistas Lésbicas, trabalham no sistema econômico masculino exercendo tarefas
que definem nossa falta de status de classe. Somos forçadas a viver como trabalhadoras
migrantes estáticas, que precisam ganhar nosso sustento e nunca reclamar de nossa
condição, ou afundamos ainda mais na degradação.
A falta de um status de nossa própria classe de mulheres pode ser mais evidentemente
vista em indústrias de “serviços”, como restaurantes e bares, escritórios corporativos e
estabelecimentos de vendas. As mulheres são a maioria dos trabalhadores de baixo nível
nessas indústrias. Normalmente trabalhamos 8 ou mais horas por dia, frequentemente
por salário mínimo. Alguns empregos, particularmente em restaurantes, pagam menos
que o mínimo, forçando as mulheres a viver de gorjetas recebidas por sorrirem, serem
gentis e condescendentes (14). Esses empregos requerem pouca formação educacional e
oferecem poucas oportunidades de promoção ou aumento de salário. Não é
surpreendente que esses empregos tenham altas taxas de rotatividade, porque as
mulheres que o exercem são facilmente dispensadas.Fazendo mulheres exercerem tarefas degradantes e repetitivas, os homens que
controlam a heteroeconomia patriarcal podem continuar a fazer o que quer que eles
escolham sem pensar sobre as consequências. Os homens continuam, com total
confiança, a desperdiçar e destruir, sabendo que eles têm mulheres bem condicionadas a
reparar tudo para eles. As mulheres “pegam o trabalho sujo, se encarregam do entulho
material e psíquico (…), produzem apenas outra variante do autossacrifício feminino e
do trabalho doméstico, varrendo as ruínas do patriarcado” (15).
A Lésbica Separatista escolheu derrotar os homens, odiar os homens (16), a fim de
defender as mulheres e nossa liberdade de sermos nós mesmas. O preço para manter
nossa integridade é quase sempre a pobreza, a violência, a degradação e a negação de
necessidades básicas. Apesar da pobreza sofrida e dos obstáculos colocados à nossa
frente, nós sabemos que estamos certas (17). E por causa da alegria e da liberdade que
irradiamos, nossos inimigos sabem que estamos certas.
‘Considere o caso dos guerreiros Masai, um grupo de pastores que vivem no Quênia e
em partes da Tanzânia. Apesar das mulheres cuidarem do gado, a fonte de riqueza do
grupo, seus maridos são os donos, e o gado é passado como herança para seus filhos.
Se uma mulher dá à luz apenas meninas ou é incapaz de gerar crianças, ela é
ostracizada e forçada a viver por conta própria. Ela não é valorizada como mulher por
seu próprio direito. Ela é valorizada apenas se ela toma conta do gado e dá filhos a seu
marido. Suas filhas não poderão cuidar dela quando ela envelhecer. Elas devem partir
quando se casarem com homens nas aldeias vizinhas, forçadas a repetir o mesmo
padrão que sua mãe sofreu quando era jovem’ (18).
Uma vez que o poder concedido às mulheres pelos homens é revogável, não se pode
dizer de nenhuma mulher que é economicamente rica, porque ela não vive numa
economia ou numa sociedade baseada em valores femininos.
Uma Proposta
Muitas feministas não querem reconhecer o quanto elas se tornaram confortáveis com o
privilégio heterossexual delas no sistema opressivo que muitas outras mulheres querem
deixar para trás. Elas continuam pedindo por privilégios para elas mesmas, enquanto as
condições para a maioria das mulheres permanecem inalteradas. Poucas feministas
propuseram a abolição do heteropatriarcado racista, porque para isso elas teriam que
confrontar sua própria cumplicidade e a dolorosa subordinação que os homens forçaram
às mulheres através de terrorismo, doutrinação, privação e mentiras. (19)
Nós podemos começar, mesmo que de forma modesta, a romper com a economia
masculina. Lésbicas Separatistas e Feministas Radicais já começaram, recusando estar
com homens ou fornecendo as necessidades, desejos e caprichos deles em nossas vidas
pessoais/políticas. Embora mulheres heterossexuais também possam contribuir com
essa ruptura, através da sabotagem, é improvável que elas coloquem elas mesmas e
outras mulheres acima das prioridades masculinas.
Lésbicas separatistas podem fazer muito mais:

Nós podemos romper com a heteroeconomia patriarcal através do sistema de
troca, onde bens e serviços podem ser trocados diretamente por outro, ao invés de dinheiro. Por exemplo, se eu preciso trocar minha janela quebrada, eu posso ter uma
amiga que é uma vidraceira especialista para repor minha janela em troca que eu arrume
o carro dela quando precise, no presente ou futuro. Nós podemos obter o que
precisamos sem o uso de dinheiro. Nós também podemos criar nosso próprio sistema
monetário através do uso de um sistema de comprovante que apenas Sapatas
trabalhando juntas reconheçam. Esses comprovantes podem ser usados para obter
necessidades básicas e serviços de Sapatas com habilidades especializadas.
Uma forma simular de ruptura é se negar a pagar impostos. A maioria do dinheiro
de pagamento de impostos vai diretamente para a máquina do lixo falo-militar para
inventar mais armas para aniquilar a vida sensível. O resto é usado para se manterem
supostos eleitos e nomeados ‘’oficiais’’ e ‘’oficiais’’ corporativos no sistema masculino
heterossexual assassino, branco e rico. Os dois mais recentes exemplos descarados são o
roubo de milhões de dólares do dinheiro da moradia federal e o roubo de bilhões de
dólares por poupanças e empréstimos executivos. O sistema de impostos é outra forma
de parasitismo masculino, drenando a energia das mulheres através de trabalho
degradante para nutrir a ganância insaciável deles e o ódio pela vida.
Há métodos ilegais que podem ser perseguidos, tais como dinheiro de contrafacção,
explorando a oferta de moeda que é regulada por computadores, interrompendo
negócios do Wall Street e outros centros financeiros onde o negócio do patriarcado e da
heteroeconomia é realizado todos os dias.
Nós podemos nos organizar em quadros de ladras para roubarmos necessidades
básicas e dinheiro para nossa vida diária. Com o aumento da habilidade, nós também
podemos ensinar outras lésbicas como roubar.
Nós podemos ir a prédios abandonados e renová-los para viver e/ou para propósitos
políticos. Lésbicas são frequentemente negadas nos espaços, até por feministas. A
renovação de prédios seria um bom modo de reivindicar o nosso tão necessário espaço e
pensar e agir para o nosso bem-estar.
Para aquelas que têm filhas meninas, nós também podemos nos recusar a mandá-
las para escolas públicas e privadas. Nós podemos criar no lugar nossas próprias
escolas Lésbicas Radicais. Alguns fundamentalistas cristãos têm resistido em mandar
seus filhos para escolas públicas, porque, na opinião deles, valores racistas
heteropatriarcais não são promovidos o suficiente. Eles atualmente querem tomar o
controle do sistema de escola pública tirando as poucas ‘’reformas’’ que a educação tem
sido permitida a fazer. Contudo, a maioria das escolas cristãs continuam a ensinar
valores racistas heteropatriarcais e promovendo os ‘’maravilhosos’’ homens brancos,
enquanto as mulheres são ignoradas ou mostradas em papeis de suporte de estereótipos.
Os agentes do sistema monetário de impostos estão executando uma proteção agitada no
sistema educacional, que vai aceitar dinheiro em termos dos agentes. Uma educação
Radical Lésbica seria baseada em valores que mantenham nossa inteligência e
integridade moral. Nós podemos aprender sobre a vida de nossas irmãs antepassadas,
lutas e realizações e sobre o que tem sido feito no presente.
Algumas feministas propuseram destruir o sistema trabalhando na economia masculina,
especialmente em um banco ou corporação grande, mas dando o dinheiro para nossas
causas. Não há nada inerentemente errado em tirar o dinheiro que ganhamos em nossos
empregos na heteroeconomia patriarcal e usar ele em causas Lésbicas. Essa é uma boa estratégia, dar de volta a energia para nós Mesmas e para as outras. Nós precisamos
encontrar todo modo possível para tirar dinheiro da economia masculina para o nosso
bem estar. Mas nós devemos entender que tal estratégia é de curto prazo e deve
contribuir para metas em longo prazo. Também deve ser entendido que isso é muito
difícil, embora não impossível, trabalhar em uma corporação, um grande negócio, ou no
governo, e simultaneamente manter a perspectiva e cólera da Sapatão Radical.
A corporação, o estado, a família heteropatriarcal, todos têm as mesmas linhas
hierárquicas e ‘’relacionais’’ de superioridade e subordinação. Ao contrário das
mulheres, especialmente Lésbicas Separatistas, que são removidas se não se
submeterem e existirem para os homens. Ao contrário das mulheres que também são
mantidas, pela estrutura corporativa masculina, como exemplo para todas as outras
mulheres do que será o destino deles se mudarem o sistema. A razão, inteligência e
cólera das mulheres são fragmentadas, dissipadas e propositalmente desviadas (20) com
o objetivo de manter o poder corporativo. A economia masculina precisa da
cumplicidade das fêmeas, a qualquer preço, incluindo para a destruição do
conhecimento e paixão das mulheres. A corporação é parte do esquema de mobilidade
fálica ascendente. E como nós vimos, as mulheres não podem alcançar mobilidade
ascendente na heteroeconomia patriarcal.
Nós devemos perceber que enquanto nós trabalharmos na economia masculina, as
fêmeas não vão se beneficiar do trabalho que os homens nos disseram para fazer. Um
passo crucial para terminar com a heteroeconomia patriarcal, e, por fim, o racismo
heteropatriarcal, tem sido proposto por Susan Cavin e deve ser ao menos considerado
por TODAS as Lésbicas Separatistas. E é parar de trabalhar para homens em qualquer
circunstância.
‘… é quando o oprimido para de trabalhar para os opressores… que as soluções
libertadoras são atualizadas. Enquanto as mulheres trabalharem na economia
patriarcal elas permanecerão oprimidas.’ (21)
Nós podemos ser muito criativas em nossos métodos de ruptura. Mas nós temos que
terminar com a heteroeconomia fálica que perpetua a estrutura de classe masculina e o
sistema de valores masculinos. Então poderemos continuar a criar a sociedade
ginocentrada que nós já começamos. Nós devemos agir agora, porque nós
reconhecemos o heteropatriarcado racista pelo que ele é; nós devemos ‘’torná-lo
inofensivo e… ver como alguém vive sem isso.’’ (22)
Lésbicas e nossa libertação são, ou deveriam ser, as considerações mais importantes em
nossas vidas. Atribuir a nós Mesmas e cada uma das outras menor valor é um perigo a
nós todas.
Notas
1. Julia Penelope, “O Mistério das Lésbicas: IL” Éticas Lésbicas 1:2 (1985), p. 53.
2. É impossível não considerar o patriarcado tão racista quando lesbofóbico. Portanto,
eu tive que escolher expandir o insight original que Julia Penelope teve quando ela
cunhou o termo heteropatriarcado, que eu encontrei primeiro no artigo dela, ‘’Estamos
reivindicando o passado DE QUEM?” Vidas Comuns, Vidas Lésbicas 13 (Autumn
1984), p. 19.3. A Inquisição na Europa tem sido referida por Starhawk como Os Tempos Ardentes.
A verdade é que desde o começo do heteropatriarcado racista, os corpos, mentes e
espíritos das mulheres têm sido imolados nas piras de morte falocráticas. A evidência da
queima de mulheres é global porque a falocracia é global.
4. bell hooks, Teoria Feminista: Da Marginalidade ao Centro (Boston: South End
Press, 1984), p. 73.
5. ibid., p. 77.
6. Embora esse insight/incito esteja ao redor do movimento Feminista há algum tempo,
isso é sempre Original. Entre aquelas que des-cobriram está Anna Lee em seu artigo,
”Uma Negra Separatista”, Visões Internas 5:3 (1981), p. 31.
7. Um termo que eu cunhei para mostrar como a exploração de todas as mulheres pelos
homens está conectada à economia que mantém a heterossexualidade como o
”estandarte” e força as mulheres a permanecerem em relações com homens.
8. Jeffner Allen, “Economias Lésbicas.” Trivia 8 (Winter 1986), p. 40.
9. Alison Jaggar, Políticas Feministas e Natureza Humana (Totowa: Rowman e
Allanheld, 1983), p. 296.
10. Eu não escrevi propositalmente ‘’Judia’’. Isso não foi feito por desrespeito às
Sapatas Separatistas Judias, mas para incluir nossas irmãs árabes que são Lésbicas
Separatistas.
11. Jaggar, Ibid.
12. Allen, p. 49.
13. Eu não estou propondo nenhuma forma de mobilidade ‘’descendente’’. Quando
mulheres estão ganhando 65 centavos para cada dólar que os homens ganham, quando
mulheres graduadas ganham MENOS que homens educados até a oitava série, quando
mulheres não podem conceder o dia para cuidarem de crianças pequenas, quando é
estimado que no ano 2000, virtualmente todos os pobres serão MULHERES E
CRIANÇAS, nós não somos móveis ‘’descendentes’’. Nós somos IMÓVEIS!
14. Um ponto pessoal/político. Depois de trabalhar em uma grande variedade de
restaurantes nos últimos anos, eu fiz esta observação: Embora muitos homens trabalhem
em restaurantes, eles geralmente não trabalham nos restaurantes sujos ou de fast-food.
Como restaurantes se tornaram mais ‘’chiques’, atendendo à clientela que eles querem
atrair, homens são vistos nesses estabelecimentos como empregados, onde o pagamento,
benefícios e oportunidades de avanço são bem melhores. As mulheres nunca são vistas
como empregadas nesses restaurantes. VOCÊ apoia esse caso de opressão comendo
nesses restaurantes?
15. Christina Thurmer-Rohr. ‘’Da Decepção à Não-Decepção: Sobre a Cumplicidade
das Mulheres’’. Trivia 12 (Spring 1988), p. 69.16. Ver a discussão de Jeffner Allen sobre o ódio aos homens no ensaio dela,
‘’Recordando: Um Dia Eu Serei Meu Próprio Começo’’. Em seu Filosofia Lésbica:
Explorações (Palo Alto: Instituto de Estudos Lésbicos, 1986), pp. 19-24.
17. Marilyn Frye, “Algumas Reflexões sobre Separatismo e Poder.” Em seu A Política
da Realidade: Ensaios sobre Teoria Feminista (Trumansburg: The Crossing Press,
1983), p 98.
18. Eu ouvi pela primeira vez sobre as vidas das mulheres Masai em um filme que eu vi
em uma aula de sociologia do gênero em Abril de 1985. O compromisso delas é o
compromisso de muitas mulheres em todo o mundo, incluindo na América, onde as
mulheres mais velhas, depois de fazerem muitos sacrifícios para criarem seus filhos e
manter a casa, frequentemente se encontram com nada para mostrar de seu trabalho
duro, especialmente se seus maridos morrem ou se divorciam delas.
Há também uma história interessante contada sobre a propriedade masculina do gado.
Na história pré-patriarcal, as mulheres eram proprietárias do gado e eram responsáveis
por tomarem todas as decisões. Mas veio uma seca durante o verão e matou todo o
gado. Quando elas estavam aptas a reabastecer o gado, os homens tiraram tudo das
mulheres, desde as posições de responsabilidade à propriedade do gado. Aqui nós temos
mais evidências que não vivemos sempre em uma sociedade patriarcal.
Ainda o fato de que essa história, atribuindo culpa às mulheres por um desastre natural,
foi contada por uma mulher mostrando a cumplicidade feminina em justificar e manter
as mentiras e controle masculino.
19. Gerda Lerner, A Criação do Patriarcado (Nova York: Oxford Univ. Press, 1986), p.
217.
20. Ver Mary Daly, Luxúria Pura: Filosofia Feminista Elementar (Boston: Beacon
Press, 1984), p. 206-7, para a discussão dela sobre as paixões e conhecimento das
mulheres e como elas foram fragmentadas e dissipadas pelo heteropatriarcado racista.
21. Susan Cavin, Origens Lésbicas (São Francisco: Ism Press, 1985), p. 153.
22Thurmer-Rohr, p. 74.
22. Thurmer-Rohr, p.. 74.